9 de fev. de 2025

Manual do Jovem Orientista - Dica nr 65

Dica nº 65: Navegação por referências.


O tipo de navegação mais comum é através dos “check points”, ou seja, pelos pontos de referência, sejam eles objetos ao longo da rota escolhida ou detalhes do relevo de fácil identificação. A estratégia mais comum na maior parte do percurso é a utilização de referências distintas no terreno, sendo importante avaliar os locais com melhor facilidade de progressão, de acordo com o tipo de vegetação predominante e a disponibilidade da rede de trilhas. Ao progredir no terreno vamos movendo o mapa e marcando com o polegar, ou com a ponta da bússola de dedo, qual referência estamos passando, mantendo o mapa orientado com a direção que estamos seguindo. Também podemos utilizar objetos lineares paralelos à navegação, o que chamamos de linhas de referência, como bordas de vegetação, cursos d’água ou encostas de elevações. Estas são técnicas básicas que usamos em todos os treinamentos e em todas as competições, pois associando à técnica de simplificação do terreno, podemos correr numa velocidade mais rápida com segurança na navegação que estamos realizado, com pouca chance de cometer erros ou perder tempo.

Quanto à facilidade de progressão, geralmente é melhor navegar pela parte mais alta do terreno, onde a visibilidade é melhor, além de evitarmos as reentrâncias, que atrapalham um pouco a manutenção do ritmo de corrida. Mas quando há encostas longas e inclinadas, onde não corremos na linha de crista, é melhor procurar correr por dentro dos vales, onde a vegetação geralmente é mais limpa e não há muita inclinação lateral. Quando as elevações são baixas é melhor correr pelas partes altas das elevações, desde que tenha a tendência de subir e descer com pouca variação, ou seja, com variação de poucas curvas de nível; a vantagem é ter uma boa visibilidade geral do relevo e certa facilidade em identificar as referências existentes nessas elevações.


Quando há diferenças de vegetação, devemos dar preferência por correr nas áreas brancas, na maior parte da rota. Algumas vezes as áreas brancas são tão boas quanto correr nas trilhas, valendo a pena uma rota mais curta em área branca em vez de uma volta maior por trilha. Quando a predominância da vegetação é mais com verde, já é melhor buscar as trilhas e as referências distintas quando for sair de uma trilha para entrar em área verde, e neste caso sempre usando a bússola com navegação precisa.

A experiência com diversos tipos de terreno, fazendo percursos em regiões diferentes, ajuda no momento de escolher a parte do relevo com melhor progressão, por isso é importante treinar com foco no uso das referências mais marcantes de cada mapa. 


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Manual do Jovem Orientista - Dica nr 64

 Dica nº 64: Observe os detalhes de relevo ao escolher a rota.

Para alguns atletas de alto nível, o relevo não faz muita diferença na escolha de rota, eles simplesmente escolhem a rota mais curta e navegam por ela, mas esta regra só é válida para aqueles com excelente preparo físico. 

No Campeonato Mundial realizado na Croácia em 2008, o relevo tinha elevações médias, mas permitindo navegar na linha vermelha; algumas vezes eu desviava de algumas elevações, mas era comum para grande parte dos competidores passar direto, seguindo uma linha reta até o próximo ponto, mesmo cortando as reentrâncias, onde costumamos desviar um pouco na curva de nível, eles cruzavam reto, descendo e subindo, sempre mantendo a mesma direção. Essa estratégia é válida para quem tem um preparo físico excelente, que possibilita fazer todo o percurso, subindo e descendo elevações, sem ter que poupar energia. Para os demais, é importante avaliar qual a melhor alternativa de acordo com o relevo. 

Além da alternativa que proporcione menor desgaste físico, também analisamos qual facilite a navegação, que proporcione uma navegação fácil até o ponto de ataque escolhido. A navegação pela linha do azimute também é mais fácil em áreas onde a vegetação não atrapalhe a progressão, como é o caso da maioria das áreas na Europa, o que nem sempre ocorre nas áreas brasileiras. 

No Campeonato Mundial Militar no Brasil em 2006, houve uma situação que o uso do relevo fez diferença na disputa do menor tempo no percurso médio. Naquela área o relevo oferecia uma boa variação nas opções de rota. A disputa principal foi entre o russo Andrey Khramov e o francês Thierry Gueorgiou, ambos campeões em mundiais da IOF, que fizeram ritmo de corrida abaixo de 5min/km. Consegui com eles o traçado com as rotas realizadas e João Edilson Lopes fez a simulação com os tempos em cada ponto, no aplicativo que mostra o mapa e a representação dos competidores fazendo suas rotas de acordo com o tempo de execução, comparando o desempenho dos três primeiros daquele percurso. O suíço Baptiste Rollier, que foi o 3º colocado, liderou até o ponto 5, mas quando errou no ponto 6, Khramov que vinha em segundo liderou até o ponto 7 com uma vantagem pequena. Khramov errou na hora de pegar o ponto 8, quando Thierry passou a liderar com folga de 30 segundos. Na rota para o ponto 11, Thierry usou uma rota mais próxima da linha do azimute, subindo a elevação, enquanto Khramov desviou mais à esquerda para passar num colo mais abaixo. 


Apesar de aumentar um pouco a distância, Khramov teve que subir menos, chegou ao ponto de controle mais rápido e fez o menor tempo parcial de todos, passando a liderar dali até o final, vencendo com apenas 3 segundos de vantagem sobre Thierry. 

Isto mostra que mesmo em percursos médios, o uso do relevo é importante na navegação e escolha de rotas, interferindo no resultado final. 


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