22 de out. de 2014

Manual do Jovem Orientista - Dica nr 40

Dica no 40: Não duvide de conseguir realizar seus sonhos.

Esta dica serve para todas as áreas de nossa vida. A realização de nossos sonhos depende muito de nosso empenho. Concordo com as palavras do campeão mundial Thierry Gueorgiou: “Penso que o mais importante, é sonhar. Ter um sonho e persegui-lo é muito importante em termos de motivação. Que isso possa vir a ter uma tradução no dia a dia, depende da dimensão e do alcance desse sonho. Se o sonho é vir a ser campeão do mundo, torna-se necessário treinar diariamente com uma tal entrega e uma tal vontade que corresponda, finalmente, aos objetivos traçados. Não há limites para o sonho. Quando se sonha e quando se trabalha para alcançar os resultados, é possível chegar lá.”

Numa palestra de Amir Klink aprendi que o planejamento é fundamental para a realização dos projetos. Precisamos avaliar o que é necessário para atingir nossos objetivos e trabalhar para por em prática aquilo que sonhamos. Muitas vezes demora até conseguirmos juntar os recursos materiais, financeiros e técnicos, mas a principal limitação acontece quando desanimamos diante das primeiras dificuldades e desistimos de nosso projeto. 

A realização de nossos projetos muitas vezes acontece como nos sonhos: nem parece ser realidade quando acontece. É uma sensação incrível, que pode ocorrer várias vezes em nossa vida. Foi assim na primeira vez que fui para a Europa, em 1990. Meu sonho era participar dos 5 Dias de Orientação na Suécia. Na época eu já estava entre os primeiros orientistas do Brasil, mas ainda não tinha apoio para competir fora. Aprendi inglês por minha conta, economizei dinheiro para a viagem, consegui os endereços de contato com a organização do evento, marquei minhas férias para a data prevista, mandei minha inscrição, recebi as informações necessárias e na data programada coloquei tudo em execução. Foi minha primeira viagem internacional, e a fiz sozinho. Fui até Estocolmo de avião, fazendo conexão em Frankfurt. Do aeroporto de Estocolmo fui para a Estação Central onde peguei o trem para Göteborg, peguei um bonde até a estação mais próxima do local onde iria ficar e com o mapa das redondezas cheguei à pé na escola onde seria realizada a Clínica do O-Ringen. Tudo ocorreu dentro do programado e foi incrível ver como podemos chegar a qualquer lugar do mundo com bons mapas – "Quem tem mapas vai a Roma". 

Fui muito bem recebido e apoiado na Clínica. Meu primeiro percurso numa área totalmente diferente das que eu já havia corrido aqui no Brasil foi como num sonho, e não senti dificuldade para navegar e encontrando todos os pontos. Foi numa área de parque, em pleno verão, onde encontrar mulheres sentadas em cadeiras de praia tomando sol em “topless” na rota do ponto de controle parece ser algo comum por lá. Quando a competição começou, o sonho continuou: desfilar com a Bandeira do Brasil na cerimônia de abertura, no Estádio Ullevi, em meio a tantos outros países participantes, foi muito emocionante. No primeiro dia e em cada dia subsequente, a visão da estrutura montada para receber 20.000 competidores em todos os dias é incrível. Uma verdadeira multidão em volta da área de chegada, com várias bandeiras identificando as centenas de grupos formados pelos clubes de orientação, espalhados pelo gramado. Um setor com vários caminhões e geradores de energia para a mídia e apuração, com telão e aparelhagem de som. Setor de alimentação e facilidades, incluindo local para os pais deixarem os filhos pequenos enquanto competem. Local de banho com chuveiro quente para todos. Local para fixação dos resultados por categoria, onde encontramos nosso tempo exposto, logo após sairmos da área de apuração. É realmente um cenário de sonho para quem vinha de um local onde os grandes eventos tinham pouco mais de 200 participantes. 

Depois dessa ocasião viajei para uma dúzia de outros países, mas a sensação de competir orientação nesses locais continuou sendo algo semelhante ao que sentimos nos sonhos. 


Outro sonho que consegui realizar como atleta foi o de correr na primeira perna do revezamento "Jukola Relay", na Finlândia, a maior competição de revezamento de equipes de orientação do mundo, com mais de 15 mil competidores no total. Foi outro momento emocionante ao sair numa partida em massa, durante a noite, com quase duas mil equipes competindo. Foi incrível para mim correr um percurso noturno de quase 13 km num ritmo médio semelhante ao que corria durante o dia! Durante a prova a gente visualiza diversas filas de luzes, e temos que estar concentrados no mapa e bem orientados o tempo todo para seguir pela direção correta, de acordo com nosso percurso. Muitas vezes passamos alguns momentos numa rota escura sem ver ninguém, para depois encontrarmos a fila de luzes novamente. E na primeira perna, além do momento extraordinário da partida, pode haver outro momento singular, como aconteceu naquele percurso, de haver uma fila de luzes de quem se aproxima da chegada cruzando com a fila de luzes de quem já saiu para a segunda perna, outra imagem incrível, onde a gente passa pelo cruzamento o mais rápido possível, esperando não trombar com ninguém!


Cada viagem depende de bastante planejamento e organização. Muitas vezes temos que nos preparar e passar por competições seletivas, ter bons resultados nas competições nacionais, até ser incluído na equipe nacional e poder participar de competições internacionais. Em outras competições, podemos participar dentro de qualquer categoria que nos enquadrarmos, precisando apenas ter os recursos financeiros e planejarmos com a antecedência adequada, fazendo a inscrição e preparando o passaporte dentro dos prazos necessários. 

Seja qual for nosso sonho, é certo que podemos alcançá-lo se fizermos o planejamento de maneira adequada e prepararmos tudo de acordo com nosso objetivo. 

Manual do Jovem Orientista - Dica nr 39

Dica no 39: Outras matérias ligadas à orientação.

Já é conhecida a vertente educativa da orientação, que está ligada a várias outras áreas de conhecimento. Na prática da orientação utilizamos bastante matemática, principalmente no cálculo de distâncias e azimutes. Aprendemos também assuntos ligados à geografia e ciências, no uso de mapas e bússola. 

Eu tive experiências com matérias ligadas à orientação, antes mesmo de ser orientista. Aos 14 anos de idade aprendi num curso de desenho técnico sobre vistas laterais, inferior e superior de peças, comparando com a representação gráfica em perspectiva isométrica. Notei que tinha facilidade em identificar as diferenças de representação e relacionar as vistas planas à visão tridimensional. Na orientação fazemos uso semelhante de representações em duas dimensões comparando com a realidade tridimensional. Quem tem facilidade em desenho técnico também pode ter facilidade para entender as curvas de nível e outras representações do relevo. 

Fiz um curso de eletrotécnica, onde estava incluída a parte de comandos elétricos industriais e, posteriormente, fiz também o curso de sistemas elétricos de aeronaves. Nessas áreas de trabalho é comum a representação dos circuitos elétricos por meio de diagramas de fiação elétrica, onde são representados, de acordo com uma convenção internacional, todos os dispositivos do sistema e todas as ligações elétricas e conectores. Ao interpretar um diagrama, para localizar uma pane num sistema qualquer, além de conhecer os símbolos, é necessário raciocinar com a sequência de funcionamento e com os pontos de energização e de aterramento (a corrente elétrica sempre flui na direção convencionada do ponto de energização para o ponto de aterramento). É um raciocínio muito semelhante ao que utilizamos na orientação, ao ler o mapa e analisar as opções de rota. Na resolução de panes elétricas, olhamos o diagrama do sistema em estudo, analisamos todos os caminhos da corrente elétrica através dos dispositivos e em seguida verificamos o que está acontecendo na realidade, testando os pontos de energização e a passagem de corrente nos equipamentos elétricos do sistema. Depois de analisar o diagrama é que vamos verificar o componente que não está funcionando, e fazemos o reparo necessário. Sempre tive facilidade em interpretar diagramas elétricos para solucionar panes, da mesma forma que tenho facilidade para interpretar os mapas de orientação.

Na época do curso de sistemas elétricos de aeronaves, quatro colegas meus que gostavam de correr também participaram dos treinamentos de orientação e tiveram relativa facilidade, com desempenho nos percursos acima da média dos demais, passando a ser titulares de minha equipe no segundo ano do curso. Isso comprova que várias matérias têm raciocínio semelhante ao da orientação e existe afinidade entre aqueles que têm facilidade nessas áreas de raciocínio e os orientistas. A situação recíproca também pode ser verdadeira. De maneira semelhante, nosso esporte ajuda a desenvolver o raciocínio lógico, a visão espacial e a rapidez de raciocínio, sendo útil em atividades de outras áreas de conhecimento. 

21 de out. de 2014

Manual do Jovem Orientista - Dica nr 38

Dica no 38: Orientação na Escola.

A vertente pedagógica da orientação corresponde ao conjunto de ações que visam colocar o desporto Orientação a serviço do aluno. Nesse caso, procura-se a melhor qualidade do ensino e a motivação do aluno, não importando a performance; mas, sim, a participação, visando a formação do indivíduo para o exercício da cidadania e para a prática do lazer. 

Diante desta realidade pedagógica, encontramos, de um lado, a Confederação Brasileira de Orientação, que possui as seguintes finalidades, conforme seu estatuto:
- Incentivar a preservação do meio ambiente, criando a consciência ecológica nos atletas que praticam ou venham a praticar a Orientação, inclusive por ciclos de palestras;
- Oferecer as condições para que o desporto Orientação seja ministrado nas escolas como atividade formativa e interdisciplinar.

E, de outro lado, figura a Escola, com o desafio de oferecer uma educação integral ao sujeito, de acordo com o que preceituam os Parâmetros Curriculares Nacionais   PCNs.

Nesse prisma, vislumbra-se a possibilidade de desenvolver a educação ambiental nas escolas, fazendo com que o indivíduo e a coletividade construam valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. 

Certamente, o desenvolvimento de um trabalho conjunto entre as Escolas a Confederação Brasileira de Orientação, com a implantação do desporto no currículo escolar, atenderia aos objetivos da Lei de Educação Ambiental, especialmente o que prevê o seu art. 2º, que é do seguinte teor: “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. 

Desta forma, o projeto ESCOLA NATUREZA apresenta a Orientação como um processo pedagógico capaz de desenvolver nas pessoas a consciência ecológica, ao utilizar, de forma lúdica, a natureza como campo de jogo. 

O valor pedagógico do desporto Orientação está na sua simples prática, onde o aluno, ao executar o movimento, está usando a mente na resolução de um problema relacionado a uma das diferentes áreas do conhecimento. Desta forma, a inserção da Orientação, como ferramenta interdisciplinar, permite uma ampla integração da Educação Física com as demais disciplinas.

Uma das características inigualáveis desse desporto é possibilidade dos portadores de necessidades especiais competirem, em iguais condições com as demais pessoas, não sendo necessário dividi-los por grau de limitações e, ainda, havendo um alto nível de competitividade.  Nestas circunstâncias, a participação das crianças portadoras de necessidades especiais pode facilitar a integração e a inserção social, o que justifica, novamente, a inclusão do desporto no currículo escolar.  

Neste contexto os orientistas habilitados pela CBO têm o papel de confeccionar os mapas didáticos (escolas, universidades e parques), montar os trabalhos de iniciação desportiva, formar e aperfeiçoar os educadores na prática do desporto com realização de cursos, palestras, etc. A partir daí os educadores dão prosseguimento ao ensino da Orientação, conforme currículo aprovado junto à Secretaria de Educação de seu município. 

Nos cursos de Educação Física pode ser disponibilizada a matéria opcional do Desporto Orientação, conforme já implementado nas Universidades Federais do Rio de Janeiro-RJ e de Santa Maria-RS, para habilitar educadores e organizadores de eventos de orientação.
Em suma, a Orientação, como esporte educacional, tem a capacidade de motivar a prática de Educação Ambiental na sociedade e melhorar a qualidade de ensino, podendo ser praticada por qualquer pessoa, independente de sua condição social, física ou faixa etária.