Dica no 8: Tenha um bom relacionamento com os colegas e adversários.
Eu sempre fui bastante tímido e introvertido, mas tive bastante facilidade em fazer boas amizades no meio da orientação. É claro que precisamos respeitar algumas características individuais, mas o relacionamento deve ser sempre de ajuda mútua, principalmente fora da área de competição. Em todos os eventos nacionais podemos ver o bom relacionamento entre os orientistas de estados diferentes; a disputa fica restrita apenas entre a partida e a chegada do percurso. Trabalhei bastante com militares de outras forças e também com civis de diversas profissões.
Também tive contato com praticantes de outros esportes, a exemplo de Demétrius de Carvalho, da ONG Eco Sistema, que trabalha com provas de trekking. Em 1996 ele começou organizar algumas provas de orientação, inclusive eu o ajudei no mapeamento e montagem dos percursos para o 1o Troféu Brasil de Orientação, realizado em dezembro daquele ano em São José dos Campos. Este evento teve uma boa participação de orientistas de vários estados. Foi realizada uma reunião fortalecendo a idéia da organização de um calendário para os eventos estaduais, nacionais e sul-americanos, mostrando a necessidade de formação da Confederação Brasileira de Orientação. No ano seguinte vimos a dificuldade em unir as competições de trekking e orientação, e achou-se melhor voltarmos a trabalhar separadamente. Depois disso a orientação fortaleceu-se com a fundação da CBO, mas o principal motivo do sucesso ainda é o bom relacionamento entre as pessoas que organizam os eventos.
Comprovei isto também em competições internacionais, onde o contato com pessoas de outros países sempre foi amigável. Algumas chegam a abrir suas casas para nos receber quando vamos competir em outros países. Na primeira vez que fui competir na Suécia, em 1990, encontrei-me com Ulf Levin no O-Ringen 5-Days, os Cinco Dias de Orientação da Suécia. Depois da competição fui até a casa dele, perto de Estocolmo, onde conheci seu pai, Lennart Levin, que era Secretário Geral da IOF, Federação Internacional de Orientação. Lennart costumava receber orientistas do mundo todo. Além de mostrar a Secretaria da IOF, levou-me para conhecer a fábrica de bússolas Silva, fomos treinar na sede de campo de seu clube e ele ainda pagou o taxi até o aeroporto.
No ano seguinte, quando fui para a Suécia no Campeonato Mundial Militar com a Equipe Brasileira, fiz contato com Göran Ölund, técnico de um clube bastante conhecido, que sempre tem um ou dois atletas na Equipe Sueca. Ele se dispôs a apoiar nossa equipe caso fôssemos uma semana antes, o que não foi possível, mas fez questão de receber a todos para um almoço em seu clube de orientação, antes de irmos embora.
Não voltei à Suécia depois disso, mas encontrei Göran na Finlândia, no Jukola Relay 2005, que ficou muito contente, disse que não tinha planos de vir ao Brasil novamente, mas comentou que sua casa ainda continuava aberta caso tivesse algum brasileiro interessado em treinar na Suécia.
Outro orientista sueco que conheci foi Per Olof (Peo) Bengtsson, sócio de Jörgen Martenson na WWOP – World Wide Orienteering Promotion – que organiza pacotes de turismo para orientistas veteranos da Europa. Neste trabalho ele tem apoiado algumas iniciativas de mapeamento em vários países do mundo. Ele que apoiou a vinda de Ulf Levin e Göran Ölund, em 1986 e 1987, após a ida de Leduc Fauth para a Suécia, pois teve contato com os brasileiros que participaram das clínicas do O-Ringen até recentemente. Nessas clínicas ele costuma isentar de várias taxas os orientistas que vêm de países mais distantes, como é o caso do Brasil, facilitando a estadia e transporte naquele período.
Eu o conheci em 1990, quando participei da Clínica do O-Ringen, junto com os Cinco Dias de Orientação da Suécia, onde ele foi um dos palestrantes e acompanhava todas as atividades. Lembro ainda de ter conversado com ele sobre a situação da orientação no Brasil quando fui participar do Simpósio de Mapeadores da IOF, ocorrido junto ao Campeonato Mundial de 1991, realizado na República Tcheca. Em 1994 e 1996 ele enviou alguns jovens suecos para auxiliar alguns trabalhos de mapeamento no Brasil, entre eles Arto Rautiainen, que auxiliou no mapeamento da área utilizada no 1º Campeonato Sul-Americano em Santa Maria – RS. Também trouxe grupos de veteranos em 1994, 1999, 2006 e 2011.
Esses exemplos mostram como é importante o relacionamento fora do ambiente de competição, como é um elemento facilitador e importante para o desenvolvimento do esporte.
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