20 de set. de 2022

Manual do Jovem Orientista - Dica nr 20

 Dica no 20: O traçado do percurso.


É muito importante que o competidor conheça sobre como deve ser o percurso que vai realizar, que entenda o propósito de cada parte envolvida num percurso.

O traçado do percurso deve atender aos seguintes princípios:
1. Escolha da rota
Todo esporte tem sua característica própria. O caráter sem igual da orientação é escolher e seguir a melhor rota por um terreno desconhecido contra o relógio. Isto exige habilidades de orientação, tais como: leitura precisa do mapa, avaliação e escolha da rota, uso da bússola, concentração sob tensão, tomar decisão rápida, correr em terreno natural etc.

2. Competição justa
A Justiça é uma exigência básica em um esporte competitivo. O percurso deve ser planejado passo a passo, de modo que a sorte seja eliminada da competição de orientação. O traçador de percurso tem que considerar tais fatores para assegurar que a competição seja justa e que todos os competidores enfrentem as mesmas condições durante todo percurso.

3. Satisfação do competidor
A popularidade da orientação só pode crescer se os competidores estão satisfeitos com os percursos que a eles são determinados. Um percurso planejado cuidadosamente deve assegurar que a duração seja apropriada, que exista dificuldade física e técnica, além de uma correta colocação do ponto de controle no acidente etc.

4. Proteção da vida selvagem e do meio ambiente 
O meio ambiente é sensível. A vida selvagem pode ser perturbada, bem como o solo e a vegetação pode sofrer danos. O meio ambiente também inclui as pessoas que vivem na área de competição, muros, cercas, terra cultivada, edifícios e outras construções etc. Normalmente é possível encontrar maneiras para evitar interferências e danos nas áreas mais sensíveis. Experiências e pesquisas mostram que podem ser organizados eventos grandes em áreas sensíveis, sem dano permanente, desde que sejam tomadas precauções e que os percursos sejam bem planejados. O traçador do percurso deve assegurar acesso ao terreno escolhido e identificar as áreas sensíveis no terreno com antecedência.

5. Atender as necessidades da mídia e espectadores: A necessidade de dar uma imagem pública e boa do esporte orientação deve ser uma preocupação permanente para um traçador de percurso. O traçador deve envidar esforços para oferecer aos espectadores e para a imprensa a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento da competição tão de perto quanto possível, sem comprometer a justiça esportiva.

No esporte Orientação, é em grande parte o traçador do percurso que decide que a boa sorte ou a má sorte influencia os resultados da competição. O traçador determina o valor esportivo da competição! Seu conhecimento técnicas e práticas, e sua capacidade de aplicá-las são fatores decisivos para os resultados do evento. Não devemos esquecer que a satisfação que será gerada no competidor e o incentivo a continuar praticando o esporte depende da atenção do traçador a estes princípios. 

Os trechos entre um ponto de controle e outro, que são
chamados de pernas ou pernadas, devem ter as seguintes características:
a. As pernadas são os elementos mais importantes de um percurso de orientação e determinarão sua qualidade em grande parte;
b. Uma boa pernada deve oferecer para os competidores, problemas interessantes de leitura do mapa e conduzi-los por terreno bom com possibilidades de alternativa de rotas para o indivíduo;
c. Dentro do mesmo percurso devem ser oferecidos tipos diferentes de pernadas, algumas delas baseadas em intensa leitura do mapa e outras contendo escolhas de rotas com corrida fácil. Também deve haver variações com respeito à extensão da pernada e dificuldade para forçar o competidor a usar as técnicas de orientação e velocidade de corrida. O traçador de percurso deve esforçar-se para fazer mudanças de direção para as pernadas sucessivas, a fim de forçar os competidores a se reorientar frequentemente;
d. É preferível que um percurso tenha pernadas unidas por trechos curtos, planejados para valorizar as mesmas, do que uma sequência de pernadas uniformes de qualidade inferior.
e. Quanto ao tipo, as pernadas devem ter partes muito significativas para o tipo de orientação precisa, sendo que dentro dessas pernas específicas, quase sempre há espaço para o tipo de orientação rudimentar. A parte de orientação precisa com a bússola deve ser curta (máximo de 200 m) e apropriada a terreno sem referências ou com referências semelhantes, difíceis de interpretar. Veja a parte técnica do livro.
f. Quanto à escolha de rota, é muito importante que as rotas oferecidas sejam reais e não fictícias, ou seja, o traçador prevê várias possibilidades de ir ao ponto, mas uma delas é tão fácil, rápida e segura que as demais alternativas são supérfluas. Além disso, nenhuma pernada deve conter escolhas de rotas que deem qualquer vantagem ou desvantagem, que não possam ser previstas através da leitura do mapa por um competidor sob condições de competição. Devem ser evitadas pernadas que encorajem os competidores a cruzar áreas proibidas ou perigosas.

Depois temos as características dos pontos de controle:
a. Locais de pontos de controle: São colocados pontos de controle em características do terreno que estão marcadas no mapa. Estes devem ser visitados pelos competidores na ordem determinada, se a ordem é especificada, mas seguindo as próprias escolhas de rota deles. Isto exige planejamento cuidadoso e teste para assegurar justiça. É particularmente importante que o mapa retrate o terreno com exatidão nas proximidades dos pontos de controle, e que a direção e distâncias de todos os possíveis ângulos de aproximação estejam corretos. Os pontos de controle não devem estar localizados em pequenos acidentes do terreno, visíveis somente de uma pequena distância, se não houver outros acidentes evidentes no mapa (pontos de ataque).
b. A função dos pontos de controle: A função principal de um ponto de controle é marcar o começo e fim de uma pernada de orientação. Algumas vezes pontos de controle com outras finalidades específicas precisam ser usados, como por exemplo, para afunilar os competidores para as bordas de áreas proibidas ou perigosas. Os pontos de controle também podem servir como pontos para imprensa e espectadores.


c. O prisma: Na medida do possível, o prisma deverá ser colocado de tal maneira que os competidores só o vejam após terem avistado o acidente descrito no cartão de descrição do ponto de controle. Por imparcialidade a visibilidade do prisma deverá ser a mesma, havendo ou não competidor no local do ponto de controle. Em hipótese alguma deve o prisma estar escondido. Quando o ponto de controle estiver ao alcance dos competidores, eles não devem ter que procurar o prisma.
d. Imparcialidade dos pontos de controle: Os locais dos pontos de controle serão escolhidos com grande cuidado e o 'ângulo agudo’ deve ser rigorosamente evitado, de modo que os competidores que estejam chegando não sejam conduzidos ao ponto de controle pelo mesmo caminho dos que estão saindo (dog leg).
e. Proximidades dos pontos de controle: Os pontos de controle de percursos diferentes, colocados perto um do outro, podem confundir competidores que navegam corretamente para o local do ponto de controle. Só quando as características dos pontos de controle são nitidamente diferentes no terreno e também no mapa, devem os pontos de controle ser colocados mais próximos que 60 metros. Um ponto de controle não pode ser colocado menos que 30 metros de outro.
f. A descrição do ponto de controle: A posição do prisma em relação ao objeto mostrado no mapa é definida pela descrição do ponto de controle(sinalética). A correspondência entre o objeto no terreno e o ponto de controle marcado no mapa não devem deixar qualquer dúvida ao competidor. Os pontos de controle que não podem ser claramente definidos pelos símbolos da IOF não são satisfatórios e devem ser evitados. 

Para o caso de locais onde um prisma possa desaparecer, são colocados pedaços de papel (tamanho 1 cm x 1 cm) com o número do ponto e espalhado no local em volta do prisma. Caso o competidor chegue ao local e não encontre o prisma, ele pega um desses papeis e leva com ele como verificação de que passou no ponto de controle. Este procedimento não é regulamentado pela I.O.F. e consequentemente, não é usado em competições internacionais.

O traçador de percurso deve ter sempre em mente que é muito fácil montar percursos demasiadamente difíceis para os novatos e crianças. O traçador deverá ter o cuidado de não avaliar o grau de dificuldade apenas pela sua habilidade em orientação ou pelo seu condicionamento físico, quando estiver elaborando um percurso. 

O traçador deve:
1. Usar pontos de controle justos: Às vezes o desejo de fazer as melhores pernadas possíveis conduz o traçador a usar locais inadequados para pontos de controle. Os competidores raramente notam qualquer diferença entre uma boa pernada e uma pernada soberba, mas eles notarão imediatamente se um ponto de controle conduz a uma perda imprevisível de tempo por estar escondido no local ou com uma descrição de ponto de controle duvidosa;

2. Colocar os pontos de controle suficientemente separados: Embora os pontos de controle tenham código numérico, eles não devem estar tão próximos um do outro, a ponto de causar engano aos competidores que navegam corretamente para o local do ponto
de controle do seu percurso.

3. Não complicar as escolhas de rota: O traçador pode ver escolhas de rota que nunca serão usadas e pode desperdiçar tempo construindo problemas complicados, se houver uma alternativa por trilha bem evidente. O traçador de percursos deve ter em mente que os atletas em competição não perdem tempo planejando a rota.

4. Evitar percursos que exijam demasiado a parte física: devem ser montados percursos de forma que os competidores tenham um equilíbrio entre a corrida e o jogo técnico para o nível e habilidade deles, se necessário para isso, utilizando-se dos tempos dos atletas de cada categoria nas 3 (três) competições anteriores do mesmo nível, para avaliação e estabelecimento do nível técnico e físico dos percursos propostos.

5. Evitar áreas perigosas: A vegetação que tem a cor verde mais intensa é chamada de vegetação instransponível, e é evidente que não é um local adequado para a localização dos pontos. Todas as áreas perigosas devem ser evitadas pelo traçador (e pelos competidores), por exemplo: terrenos pantanosos onde o competidor possa afundar, ou penhascos e ravinas profundas. Nas áreas perigosas o organizador deve colocar fita plástica em duas cores em seu entorno, de acordo com a marcação dessa área no mapa. Nas competições urbanas os competidores devem respeitar as rotas e áreas marcadas como proibidas no mapa, mesmo que na maioria delas não se encontre nenhuma marcação adicional no terreno.

Para reforçar, veja os 10 Mandamentos do Traçador de Percurso:
I- As pernadas são os elementos mais importantes de um percurso de orientação: escolha primeiro as boas pernadas de cada percurso, para depois definir os pontos de controle, oferecendo desafios interessantes entre um ponto de controle e outro.
II- Planeje opções de rotas entre os pontos de controle: sempre que possível, coloque pernadas com opção de escolha de rota, onde a escolha de rota faça diferença para o resultado do percurso, levando em conta o uso da técnica, não apenas a capacidade de corrida dos competidores, algumas colocações podem ser definidas pela escolha de rotas.
III- Ofereça pontos de controle interessantes: valorize os locais e vistas agradáveis ao competidor, principalmente para os percursos de iniciantes, é importante o equilíbrio entre desafio e prazer no percurso. Controles em bordas de lagos e locais pitorescos são bem-vindos.
IV- Respeite o meio ambiente e as propriedades privadas: é responsabilidade do traçador cooperar para que o local de competição seja preservado, evitando plantações e separando locais de refúgio para os animais; o contato com os proprietários deve levar em conta estes aspectos.
V- Honre os espectadores e a mídia: a escolha dos locais de concentração, partida e chegada são muito importantes, desde as facilidades disponíveis em termos de estrutura de apoio, até o aspecto de visualização dos competidores chegando e eventualmente passando por um local visível no meio do percurso.
VI- Tome cuidado com o acesso ao ponto de controle: evite o "dog leg", onde a rota de chegada ao ponto de controle coincide com a rota de saída; rotas de sentidos contrários em trilhas estreitas também são desaconselhadas, pois é importante avaliar o fluxo de competidores no terreno e o acesso a cada ponto de controle.
VII- Faça o possível para evitar o fator sorte no percurso: evite colocar pontos flutuantes, em grandes elementos lineares, sem um elemento bem definido para o ponto, onde a vegetação prejudique muito a visibilidade do elemento ou este fique longe de um ponto de ataque nítido.
VIII- Nunca coloque pontos próximos a locais perigosos: avalie bem os locais e rotas de acesso ao ponto de controle e coloque fitas de balizamento em volta de locais perigosos.
IX- Jamais esconda ou dificulte o acesso ao ponto de controle: o competidor não deve ter dificuldade para ver o elemento do ponto e ter acesso ao prisma na posição indicada, nem dificuldade para picotar e sair do local.
X- Escolha bem os postos de água: que estejam disponíveis para todos os percursos e sempre abastecidos, até para os que partem por último, principalmente nos dias quentes. Muitos competidores talvez não se lembrem do posicionamento dos postos de água, mas quem chegar a um deles e não encontrar água certamente lembrará, para o resto da vida!

O objetivo principal é que todos os competidores fiquem satisfeitos com o percurso que realizaram, que tenham confiança em estar ao ar livre com um mapa, e assim tenham incentivo para continuar participando de mais eventos.