Dica no 4: Valorize os orientistas antigos, eles têm muito para ensinar.
Após aprender os primeiros passos com um orientista experiente, Vitorino Calvi, meus primeiros técnicos na Equipe da Força Aérea foram Euro Brasílico Magalhães e Uderci Braga Silva. Com eles, além de aprender a importância de um treinamento bem programado, aprendi sobre a importância do trabalho em conjunto para o desenvolvimento do esporte.
Brasílico trabalhou na CDMB e foi o Diretor Técnico e traçador de percursos nos Campeonatos Mundiais Militares de 1983 e 1992. O mapeamento e apoio geral foram feitos por militares do Exército, mas ele foi responsável por ajustar os mapas às exigências do Comitê Técnico e traçar os percursos dentro do padrão previsto pelo CISM. A valorização do trabalho organizado e qualidade a técnica dos percursos foram marcantes em seu trabalho.
Uderci, que participou dos primeiros Campeonatos Brasileiros e também de Mundial Militar, foi o primeiro militar da Aeronáutica a ser campeão brasileiro das Forças Armadas. Com ele aprendi que a introdução da orientação no Brasil foi um trabalho conjunto das três Forças Armadas, através da CDMB, Comissão Desportiva Militar do Brasil, com seus precursores em cada Força. Os esforços individuais somaram-se e os eventos foram ocorrendo, o que possibilitou a continuação do esporte no meio militar até nossos dias. Ele trabalhou bastante em eventos de orientação organizados pela FAB, onde foi diretor de prova várias vezes. Foi um dos primeiros a adquirir licença do OCAD, permitindo a realização de vários mapas para os eventos da Academia da Força Aérea. Gostei muito de trabalhar com ele porque sempre me dava autonomia para eu realizar meu trabalho com os percursos, apoiando no que eu necessitava. Inclusive depois de ir para a reserva, ele participava como voluntário nos eventos da AFA, e mesmo depois que foi diagnosticado com câncer continuou com seu trabalho até algumas semanas antes de sua morte. Seu exemplo de humildade, competência e dedicação foi de grande inspiração para mim.
Além do trabalho da CDMB, uma iniciativa individual que possibilitou o início do trabalho de vários grupos foi a série de palestras promovidas por Leduc Fauth, funcionário do Ministério da Educação em Brasília, nos anos de 1986 e 1987, trazendo os suecos Göran Ölund e Ulf Levin, respectivamente, para clínicas de orientação em diversas cidades do país. Ele contou com o apoio de instituições que tinham alguma ligação com o esporte e dispunham de instalações adequadas para as palestras. Vários clubes de orientação, com a participação de militares e civis, tiveram início a partir dali. Tive a oportunidade de participar das duas clínicas realizadas na Academia da Força Aérea, que contava com mapas recentes na região, confeccionados para treinamento e para a prova de orientação do Campeonato Mundial de Pentatlo Aeronáutico, realizado no ano anterior. Em 1986 foi fundado o Clube de Orientação dos Cadetes da AFA.
Alguns anos depois, quando fui morar no Rio de Janeiro, participei do Floresta Clube de Orientação, que reunia militares das três Forças e civis, também fundado em 1986, após a clinica organizada pelo Leduc no Rio de Janeiro. Ali trabalhei bastante com José Ferreira de Barros, militar da Marinha, que de 1990 a 1992, esteve à frente da organização de eventos locais com mais de 200 participantes cada, sendo a maioria de novatos. Após sua mudança para Brasília, Barros foi um dos responsáveis pelo Campeonato das Forças Armadas por mais de dez anos, e ainda organizou eventos de orientação para crianças e iniciantes.
Um orientista da geração anterior à minha, com quem tive bastante contato no Rio de Janeiro foi Ambrózio Gonçalves de Souza, conhecido por montar percursos muito difíceis. Na verdade ele reproduzia o estilo de traçado de percursos comum nas competições do Exército nas décadas de 70 e 80. Eu sempre fui adepto ao estilo que aprendi com Brasílico e outros traçadores da FAB e CDMB. Apesar do estilo diferente, sempre tive bom relacionamento com o Ambrózio, que apesar do conservadorismo, aos poucos ia incorporando as novidades e novas tecnologias da orientação internacional. Aprendi com ele a importância da disponibilidade para a montagem de treinamentos e competições, que ele tinha tanto na ativa quanto na reserva. Muitos costumam criticar os trabalhos feitos da maneira antiga, mas poucos são os que se dispõe a trabalhar junto e tentar inovar aos poucos, como eu procurava fazer. Quando via algo que poderia ser mudado, eu conversava com o organizador sobre o assunto, mas sempre valorizava e elogiava o esforço e o trabalho geral realizado, pois sei como é difícil nos dedicarmos à organização de eventos, por mais simples que pareçam ser.
Também trabalhei com Sérgio Gonçalves Brito, militar que foi técnico da Equipe do Exército e do Brasil, instrutor na Escola de Educação Física do Exército, organizador de eventos, mapeador e diretor de clube de orientação. Ele trabalhou bastante para o desenvolvimento da orientação nas cidades por onde passou. Ele foi meu instrutor quando fiz o curso da EsEFEx em 1996, e eu o ajudei na organização de algumas competições, na época em que estávamos começando a fazer mapas com auxílio de computador. Após ir para a reserva, como coronel, ele passou a realizar um trabalho muito bom com crianças do ensino fundamental na cidade de Miguel Pereira-RJ. Ele foi chamado para ser o gerente da competição de orientação dos 5º Jogos Mundiais Militares, no Rio de Janeiro em 2011.
É bom conhecermos orientistas como esses e outros mais, que deram grande contribuição para o desenvolvimento do esporte, e seguirmos o mesmo exemplo, cooperando sempre que pudermos, principalmente na organização de eventos. Participar dos eventos é muito bom, mas para que estes aconteçam é necessário o trabalho de muitas pessoas. Na época em que competia, todo ano eu deixava de correr pelo menos numa prova do campeonato estadual para trabalhar na organização, e várias vezes trabalhei em eventos de nível nacional. É assim que é feita a história do esporte: tanto com os que fazem resultados como atletas quanto os que trabalham na organização dos eventos.