29 de ago. de 2021
Manual do Jovem Orientista - Dica nr 23
28 de ago. de 2021
Manual do Jovem Orientista - Dica nr 50
Dica no 50: Sistema de Avaliação de Distância.
Inicialmente é importante aferirmos a contagem de passos na distância de 100m, principalmente a contagem pela respiração quando estamos correndo. É preciso saber a contagem também em diferentes terrenos. Esta é feita na prática de um percurso qualquer, onde medimos a distância com a régua da bússola, fazemos o cálculo para aquela escala e efetuamos a contagem, comparando a distância medida no mapa com a verificada no terreno.
Para a “calibração de passos” na corrida devemos: contar os passos (contagem da respiração) entre dois objetos e aplicar a contagem para outros objetos, memorizando os ajustes verificados.
É importante aferir nas diversas situações: diferentes inclinações de subida, nas decidas, nas estradas planas, dentro dos bosques, etc. Comprovamos que diferentes situações implicam em contagens diferentes, por isso precisamos saber qual é a contagem a ser utilizada em cada situação. A vantagem desta verificação está em saber a distância correta em cada tipo de terreno ou ao longo de referências. Devemos verificar a calibração nos treinamentos, para estarmos prontos para executar a contagem adequada em competição. Para a categoria Elite, é muito comum termos o uso de azimute e contagem de passos saindo direto de um ponto de controle para chegar ao ponto de controle seguinte.
A avaliação de distância é realizada paralelamente às técnicas mais importantes, e não pode ser desprezada, principalmente quando é necessária a orientação precisa. Até quando navegamos pelo terreno, é importante marcar a distância de uma referência até a seguinte, para não seguirmos por uma crista diferente da que leva ao ponto de controle. Também é importante em rotas longas, quando precisamos pegar uma trilha indistinta para uma boa rota; para saber exatamente quando for chegar a uma junção de trilha menos distinta, ou em orientação noturna; quando o ponto de controle está em uma área muito detalhada, para evitar erros paralelos (numa área com várias colinas pequenas e montículos, por exemplo); ou quando o mapa tem poucos detalhes próximos ao ponto de controle. Nessas situações a avaliação de distância é fundamental para mantermos a concentração, fazendo uma navegação mais segura.
No início do revezamento noturno do Jukola 2005, o primeiro ponto de controle era bem distante, cerca de 2,5 km da partida. Escolhi a rota por uma estrada à esquerda da linha do azimute, pois subia menos, mas deveria voltar à floresta numa curva. Como estava bastante escuro na floresta, ao sair da estrada principal já comecei a marcar a distância entre as referências seguintes. Haviam algumas elevações adiante que geravam dúvidas na rota. Quando subi numa crista alongada, estava marcando a distância prevista até o ponto, mas não encontrei nada quando chegou a distância marcada. Olhei para a direita e vi várias luzes na crista ao lado, e lá estava o ponto de controle. Por causa da avaliação de distância não perdi tanto tempo, pois teria muita dificuldade para me relocalizar no escuro e seria uma perda de tempo terrível se não estivesse navegando com alguma técnica de avaliação de distância como segurança.
Manual do Jovem Orientista - Dica nr 49
Dica no 49: Sistema de Uso da Bússola.
Como Amyr Klink escreveu em seu livro Cem Dias entre Céu e Mar, "Navegar é preciso. Viver não é preciso... Eu vejo do mar com olhos diferentes do que em terra. Navegar, eu entendo, é a arte da precisão, e viver é, antes de mais nada, fundamental. O navegador não vaga a esmo, mas se prende a tudo que é possível, para tornar preciso o seu caminho. A exata posição dos astros no universo, no preciso segundo de cada minuto, em cada hora, o vento, o sol, sinais de todos os tipos, dados de todos os acidentes, registros de todas as forças e movimentos. E na arte de navegar nada exige maior precisão do que aportar, com segurança e onde se quer."
Podemos fazer uma comparação do comentado acima com a navegação com bússola, para poder chegar com segurança onde se quer. Tanto usando bússola de dedo ou normal, o processo é semelhante, pois devemos sempre consultar nossa bússola. Na verdade, os atletas experientes e da elite geralmente fazem uso mais constante da bússola para tirar proveito da navegação em linha reta quando necessário, além de prevenir erros comuns que ocorriam quando eram iniciantes.
Devemos checar a direção geral em cada perna, fazendo a leitura rudimentar, correndo com o braço estendido ao ajustá-la. É importante tomarmos cuidado com erros de 180° (contra-azimute), quando seguimos na direção contrária ao azimute. Para isso a atenção ao posicionamento no mapa é muito importante.
Dependendo da característica do ponto de controle, quando a vegetação tem uma boa visibilidade, é possível chegar até ele passando pelo ponto de ataque correndo, tirando o azimute em corrida e seguindo com atenção até visualizar o elemento na distância prevista. Mas em áreas onde a visibilidade não é boa, há a necessidade de fazer leitura precisa, é preciso parar um pouco no ponto de ataque e ajustar a bússola movendo mais devagar. Depois de ajustada, levantamos a cabeça, tiramos a visada e seguimos em frente. Este cuidado leva apenas alguns segundos, mas é melhor perder alguns segundos do que mais de um minuto, quando não acertamos o ponto de controle na primeira tentativa.
A diferença principal no uso da bússola de dedo, além desta estar sempre em contato com o mapa, está no método consistente para segurar, mantendo-a sempre apontando a direção a seguir no mapa. Podemos colocá-la às vezes com a base da régua sobre o ponto em que estamos e o prolongamento na direção a seguir, para conferir o posicionamento correto, fazendo a visada adiante, e posicionando em seguida para trás, retornando com a ponta indicando a posição em que estamos.Outro detalhe importante é que sempre devemos ajustar o posicionamento do corpo para acertar a direção, não girando o pulso. A posição de leitura da bússola é sempre à frente da linha média do corpo, com a base da bússola apontada para o umbigo e a ponta da seta de navegação indicando a direção a seguir, para termos uma visada correta, e manter a bússola paralela ao solo para que a agulha não se prenda ao girar. Com este tipo de posicionamento garantimos melhor precisão na direção, tanto parado como em movimento, e podemos chegar com bastante precisão onde quisermos.
Manual do Jovem Orientista - Dica nr 48
Dica nº 48: Sistema de Leitura do Mapa.
Os Sistemas de Orientação consistem em uma sistemática de abordagem do treinamento técnico e mental para orientistas experientes, baseado num trabalho da Federação Canadense de Orientação. Os sistemas podem ser divididos em: Leitura do Mapa, Uso da Bússola, Avaliação de Distância, Escolha de Rota, Picotar, Relocalização, Concentração, Estratégia de Corrida, Treinamento e Análise.
Esta sistemática leva em conta os procedimentos mais comuns realizados em treinamento e competição, de maneira lógica, com repetição de procedimentos básicos, procurando o automatismo de várias ações. Utiliza processos fáceis de treinar, trabalhando os fundamentos do esporte, visando melhorar o desempenho. Engloba também o treinamento mental, que deve ser feito paralelamente ao treinamento técnico.
A leitura do mapa é o sistema mais comum, que fazemos desde principiantes, e que devemos continuar executando sistematicamente em qualquer nível de aprendizado.
Para começar, sempre dobre o mapa paralelo aos meridianos (para facilitar a leitura da bússola) e posicione-o orientado em relação à direção a seguir. Oriente o corpo (não o pulso), um erro comum é justamente correr com o mapa fora da posição corretamente orientada. Use o polegar ou a ponta da bússola de dedo para marcar o lugar onde está. Faça tomadas rápidas do mapa, procurando formar uma imagem mental, a leitura do mapa é constante, acompanhando nossa progressão no terreno.
A imagem mental é parte mais importante da leitura do mapa, pois nela firmamos nossa autoconfiança. Devemos entrar mentalmente dentro do mapa desde o início do percurso, identificando no mapa os objetos próximos que vemos no terreno, fazendo uma imagem mental do que está à nossa volta. Depois de adaptar-se ao mapa é possível progredir com mais confiança e com menos chance de errar.
Faça a leitura do mapa à frente, para saber sempre o que está por vir, checando à medida que passar pelas referências. Dessa maneira sempre estamos antevendo as possibilidades de situação adiante e não temos surpresas quando realizamos a navegação correta. Nos percursos médios não há muita variação de rota, predominando a mudança de direção e navegação próxima ao azimute. Mas nos percursos longos aparecem várias rotas longas, com muitas opções de rota. É possível inclusive fazer a escolha de rota para o ponto seguinte, quando a navegação não for muito complexa e houver tempo disponível na rota atual. Podemos fazer a análise geral da rota para o ponto seguinte rapidamente e voltar a concentrar-se na navegação atual. A vantagem dessa análise preliminar é a possibilidade de atacar o ponto de controle sabendo para que lado vai sair em seguida, evitando perda de tempo para leitura do mapa e tomada de decisão em relação à rota seguinte.
Em áreas com muitos detalhes para interpretar, podemos selecionar uma série de objetos semelhantes, como charcos ou colinas que estejam alinhados com a rota a seguir.
Fechamos os olhos para os detalhes e vemos apenas a estrutura do terreno e alguns poucos objetos distintos como referência (os penhascos maiores funcionam bem como referências seguras para a navegação).
Em local com muitas pedras e colinas pequenas, há um risco maior de cometer um erro paralelo ao seguir pelo azimute, mas sendo possível a simplificação, a estrutura do terreno pode nos levar ao ponto de controle com mais facilidade, especialmente se houver alguma linha de segurança, como uma encosta íngreme, para evitar de passar adiante do ponto. Além disso, é importante manter a contagem de passos, para confirmar a distância a partir da referência ou ponto de ataque.
Manual do Jovem Orientista - Dica nr 47
Dica no 47: O treinamento de corrida em terreno irregular.
Para o novato, o treinamento semanal em terreno similar ao que praticamos orientação é importante para a adaptação ao terreno irregular que encontramos comumente. Para os experientes o treinamento neste tipo de terreno é fundamental para um bom desempenho. Todos os orientistas da Europa incluem a corrida em terreno similar ao de orientação durante o preparo físico básico. Todos os tipos de treinamento, inclusive os intervalados, podem ser adaptados ao terreno específico de orientação.
O treinamento também varia de acordo com a região onde será nossa competição alvo, uma vez que o relevo interfere bastante no desempenho. Há necessidade de preparação específica quando vamos competir em região montanhosa, diferenciado da preparação para região mais plana. Na primeira situação temos que aumentar o volume de trabalho em subida gradualmente, inclusive com grande quantidade de intervalados em subidas. Esse volume de corrida em subidas deve ser significativamente maior que o que realizamos no treinamento convencional, onde damos mais importância ao treinamento de ritmo em pista de atletismo ou intervalado em terreno com relevo moderado.
Geralmente fazemos uma preparação diversificada, onde o trabalho final deve dar prioridade à situação mais específica da competição principal, sendo cada fase de treinamento buscando aproximar-se do tipo de terreno e vegetação onde teremos competição nas semanas seguintes. Aquilo que se espera encontrar durante a competição deve ser experimentado durante o treinamento. O treinamento semelhante à competição deve ser regular e fazer parte do treinamento diário, tanto no aspecto físico como mental. Cada sessão de treinamento é importante no preparo para a competição, e quanto mais próximo estiver o evento, o treinamento deve ser mais semelhante à competição.
Manual do Jovem Orientista - Dica nr 46
Dica nº 46: Use um relógio especial para auxiliar no controle do treinamento.
Para executarmos um programa de treinamento, conforme indicado anteriormente, é fundamental termos um bom relógio, preferencialmente com memória para 50 ou 100 tempos, e melhor ainda se tiver controle da frequência cardíaca. Para o monitor cardíaco ou frequencímetro, o ideal é que, além da marcação dos batimentos cardíacos, haja memória e interface para resgatar os tempos e batimentos direto para um computador.
Durante os percursos, é importante o controle de tempo ponto a ponto na orientação, especialmente se pudermos comparar com outros que realizaram o mesmo percurso e também fizeram a marcação dos tempos. Com o frequencímetro podemos verificar a variação do esforço nas diversas partes do percurso, especialmente nas subidas e descidas. Vemos também o comportamento do esforço nas faixas de limiar anaeróbico, podendo nosso treinamento ser direcionado para essas faixas, garantindo um melhor aproveitamento e melhora no desempenho.
Existem programas de treinamento completos baseados no trabalho com a frequência cardíaca, geralmente fornecidos pelos fabricantes de frequencímetros, que podem dar uma boa base para o planejamento do treinamento.
A diferença básica no treinamento baseado na frequência cardíaca começa no teste de avaliação inicial da temporada, onde aplicamos um protocolo especial, como o de Conconi, para determinar o limiar anaeróbico. A partir daí o treinamento principal é definido com base na zona de limiar anaeróbico, onde em vez de metas de tempo e distância numa pista de atletismo é estipulado o tempo de trabalho na zona de limiar em cada seção de treinamento. É um método adaptável a qualquer atleta, pois não depende de tabelas com valores calculados para o trabalho intervalado, e com o desenvolvimento da temporada, a tendência é a melhora do desempenho com o trabalho continuado.
Eu experimentei durante algumas temporadas o uso do frequencímetro e obtive excelentes resultados. Foi bem melhor que anteriormente, quando não dispunha dessa ferramenta. Só parei de usar quando faltou patrocínio para adquirir um relógio melhor e pelo tempo limite de durabilidade do equipamento. Ele realmente facilita o controle principalmente durante a execução do treinamento e da competição, além de facilitar a análise da performance que fazemos posteriormente. Vários técnicos incentivam o uso do frequencímetro, fazendo os testes e planejamentos baseados em seus dados. É um item quase obrigatório para os atletas de elite, principalmente para os que treinam sozinhos, sem ter um técnico acompanhando o treinamento o tempo todo.
Todos os dados de tempo, frequência cardíaca e rotas podem ser baixados para um computador com alguns programas que auxiliam na avaliação do treinamento, desde que o relógio possua uma interface que permita baixar os dados para algum programa no computador, e depois esta rota pode ser colocada sobre a imagem do mapa de orientação para analisar a rota que foi feita. Dessa forma o controle do treinamento pode ser mais completo, e o resultado final será a melhoria da performance.