29 de set. de 2024

Manual do Jovem Orientista - Dica nr 59

 Dica nº 59: Estratégia e tática na orientação.

Você sabe a diferença entre estratégia e tática? Os termos são de origem militar e muito utilizados pelos enxadristas. No xadrez a estratégia está relacionada com os planos gerais de jogo, a disposição de peças, a interação entre elas.

A visão estratégica leva em conta as tendências do jogo a longo prazo: a necessidade de controlar o centro, os pontos fracos na estrutura de peões, o domínio de espaço, etc. A tática tem a ver com a execução imediata de uma sequência de lances. Tem o objetivo de colocar as peças em posição favorável para poder executar as táticas de ataque. A tática tem a ver com recursos como os sacrifícios de peça, o xeque descoberto, o ataque duplo, etc. Utilizamos a tática para concretizar a vantagem obtida por nossa estratégia, ou então para tentar compensar uma desvantagem estratégica.

Na orientação a estratégia está relacionada ao plano geral de percurso, de acordo com o tipo predominante de relevo e vegetação, distância total de percurso, distâncias entre um ponto e outro, dificuldade geral de acordo com a categoria, predominância de posicionamento dos pontos de controle e outras variações típicas da competição em questão. 


A tática relaciona-se à aplicação de técnicas específicas de acordo com cada ponto de controle, variações específicas independentes da estratégia geral; tem a ver com a utilização de detalhes do terreno como auxílio à navegação e até para atacar os pontos; tem a ver com a abordagem de cada ponto, que costuma ter bastante variação. A táctica pode ser abordar o ponto pelo lado da saída para o ponto seguinte, quando está em una parte com vegetação baixa, que fica marcada pela passagem de vários competidores. Pode haver a mudança de tática quando encontramos outros orientistas próximos ao ponto, ou em outras situações. As táticas mudam conforme a necessidade, mas não devemos mudar nossa estratégia inicial ao encontrarmos outros competidores. Não se mexe em time que está vencendo, e assim deve ser com nossa estratégia de corrida. Deve ser consistente com o tipo de competição e não variar em função de fatores externos não relacionados diretamente com o percurso.

Para distâncias diferentes, a estratégia geralmente é diferente. Provas mais curtas têm pontos mais próximos um do outro. Há necessidade de mais atenção ao mapa, com verificação constante de referências. É mais comum seguir a linha reta entre um ponto e outro, necessitando mais trabalho de bússola. Utilizamos a orientação precisa quase o tempo todo. O ritmo de corrida é forte o tempo todo, reduzindo apenas na abordagem dos pontos de controle.

Em provas longas a estratégia é diferente: há predominância de pernas mais longas, com bastante trabalho de navegação, variando de acordo com o tipo predominante de terreno e vegetação. Utilizamos bastante a orientação rudimentar, selecionando apenas os objetos mais distintos, principalmente em áreas mais detalhadas. Também utilizamos a bússola na maior parte do tempo como orientação geral para chegarmos até linhas de segurança, como trilhas e cercas, desenvolvendo um bom ritmo de corrida, que geralmente fica um pouco acima do limiar anaeróbico. 

Há necessidade de dosar o ritmo de acordo com a distância do percurso, deixando para forçar mais no terço final da prova, quando a sensação de cansaço não estiver incomodando. Forçar muito no início pode custar caro ao final do percurso, pois usamos rapidamente algumas reservas de energia que poderiam ser utilizadas em momentos mais apropriados. É importante manter a estratégia até o final da prova, principalmente quando ela estiver adequada ao tipo de terreno e distância de prova.

Uma boa frequência de treinamento específico e participação em competições são de extrema importância para o bom condicionamento técnico. Isto nos habilita a utilizar sempre a tática mais adequada a cada situação. Há muita variação entre as pernas de um percurso, desde situações que encontramos no meio da navegação, mas principalmente de acordo com o posicionamento do ponto de controle; para cada variação destas há diferentes técnicas a serem utilizadas.

Quando estamos navegando pelo terreno, por exemplo, podemos usar a tática de seguir ao lado de uma encosta pela parte de cima, onde a visibilidade é boa, até encontrar uma reentrância ou espigão descendente, para chegar ao ponto de controle perto dessa referência.

Há necessidade de tomada de decisão com rapidez, adequando a tática à situação. Geralmente aqueles orientistas que competem com mais frequência são os que têm mais facilidade em escolher a tática mais adequada, cometendo menos erros. Entre orientistas com condicionamento físico semelhante, a diferença de tempo num percurso geralmente depende de quem erra menos, ou seja, que aplica as melhores táticas, que executa as técnicas de orientação sem erros. Uma coisa importante a ser lembrada é que influenciamos muito pouco nossos adversários, mas podemos influenciar muito a nós mesmos. Antes e durante a competição é necessário ficar concentrado em fazer o melhor em cada disputa, em cada escolha de rota, em cada ponto de controle. 

Os pensamentos existem apenas no presente, o passado já foi e o futuro está por chegar, existe apenas o agora. Durante o percurso o orientista tem que estar preparado para fazer as escolhas certas, no momento certo. Com o mapa ele pode antecipar o que está à frente, mas a única coisa que ele pode influenciar é o presente, usando a tática adequada ao momento que está vivendo no percurso, e fazer o melhor que puder com sua habilidade. 


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